Bom-dia, mulher.
Resgato-te da noite
de nobres falidos,
jovens cegos de paixão
& facas traiçoeiras
dos portos de Hong-Kong.
Faço-te testemunha
da doce violência
de tua própria vida,
parindo mutantes
em meio a tardes mornas de seda
vinho & amargura.
Nada do que conheces
me ficará oculto um dia.
Limpo minhas armas,
satisfeito na familiaridade
da tua nudez,
adentro os templos
transformado em mulher
& vejo-te homem
pouco antes de transmutarmo-nos
em criatura sem nome, forma
ou história.
Soa, precisa e fatal,
a hora de encontrar-te,
agonizante e ressurrecta,
abandonando roupas putrefatas
nas estradas.
Vestes, é certo,
o uniforme da mais-valia
dada pela opressão que inventa
uma irônica liberdade
da qual padecemos.
Mas, clandestina,
dão-te nas sombras
a palavra de passe da insurreição,
a vocação de mulher armada
& combatente no Deserto,
tomando de assalto, um dia,
as fábricas & o Reino.
Vagas nos bosques,
em busca de uma cabana,
mantas de pele de urso
& véus negros & sabres perdidos
nas dobras do tempo
& de tua consciência.
Mas tua presença é bailarina,
recebendo-me sôfrega
nos salões de delícia do Inferno,
adormecendo cansada de um dia de opressão,
nuvem translúcida
curando leprosos nos hospitais da Índia.
Anseio ver-te cega na Estrada de Damasco.