Em noites como esta
Em noites como esta, acontece-me, às vezes, perceber algo
que não compreendo. Alguma coisa sobre o que nada sei, de que nada temo e de
que nada espero. E quando a vejo mais de perto, é como se me acolhesse sem nada
dizer. Mas em sua proximidade não há perto,
nem há distância, há identidade e comunhão. Nada muda, e apenas se intensifica
e me toma por inteiro, sem reservas. Torno-me
por um instante aquilo que percebo, mas não contenho. Nenhuma conquista ou
realização vem servir de prêmio ou desenhar sentido naquilo que se aguça, desde
sempre vazio — mas
intenso e presente —
em um momento no qual tudo assenta sem recortes, sem euforia ou tristeza, num
ponto, num instante luminoso em que emerge, soberana, toda paz.
— Feliz Ano Novo —