Abre-se na noite uma porta desconhecida, justamente quando
estou mais indefeso, e tua mão me toca suavemente. É como se me dissesses
coisas e me beijasses o centro do peito, como é bem do teu jeito. É como se me fizesses
lembrar de tuas longas asas de mulher-pássaro. É como se movesses majestoso o
teu manto absurdamente negro, onde o brilho dos teus olhos é um só caminho, que
me conduz extasiado sempre ao voo infinito, quando então são estrelas que me
olham e é a tua canção que me desperta ao inverso, contando histórias nas quais
ninguém mais acreditaria, e que falam todas da infinita paz que me atrai a ti.
Um beijo, e não sei mais quem sou, e sou tu mesma, que me
revelas a mim. E no sorriso cheio de luz e êxtase desvenda-se em silêncio, sem
explicação, o mistério insondável de amar-te tanto.